Autoridades de alto nível do governo de 11 países da África estarão no Brasil entre os dias 26 e 29 de março para cumprir uma agenda que hoje tem mobilizado as nações do continente, agências de cooperação de países desenvolvidos e organismos internacionais voltados a contribuir com ações estratégicas de cooperação. O motivo da visita é buscar medidas de controle de uma das mais devastadoras pragas da agricultura: a Spodoptera frugiperda, ou, como é mais conhecida, lagarta-do-cartucho. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), no início de 2018, apenas 10 dos 54 países africanos ainda não tinham sido atingidos pela praga, principalmente na cultura do milho. Regiões da África Central e do Sul estão no nível máximo de alerta.
“Inseticidas biológicos, Trichograma, baculovirus, Bacillus thuringiensis, milho Bt, uso do extrato de nim e manejo integrado de pragas são formas eficientes de controle da lagarta do cartucho, mas é preciso lembrar que se trata de uma praga cosmopolita”, diz o chefe da Unidade localizada no município mineiro, Antônio Álvaro Purcino. “Não existe possibilidade de erradicação. Ela se alastra com muita rapidez e não se concentra apenas nas culturas de milho. Em estágio larval, a lagarta se alimenta de arroz, sorgo, milheto, cana de açúcar e algodão”.
No continente africano, a praga foi detectada pela primeira vez há apenas três anos, na Costa Oeste. Estimativa da FAO, revela que, a cada ano, caso não sejam controladas, as lagartas podem destruir entre oito e 21 milhões de toneladas de milho, que representam perdas entre US$ 2,5 bilhões e US$ 6,5 bilhões para produtores.
Apoio científico - Segundo o gerente de Relações Estratégicas Internacionais da Embrapa, Alexandre Morais do Amaral, a Empresa tem continuamente buscado contribuircom muito mais do que ajuda. “Estamos participando de colaborações internacionais, auxiliando com o avanço do conhecimento e com a política externa brasileira, liderada pelo MRE”, destaca. A Embrapa já participou de mais de 200 iniciativas nos últimos 10 anos, em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação, incluindo a realização de treinamentos, revitalização de infraestrutura de laboratórios de pesquisa, intercâmbio de germoplasma e implantação e acompanhamento de Unidades Demonstrativas.
Na estratégia de combate à lagarta-do-cartucho, os governos do Brasil e dos Estados Unidos assinaram um Protocolo de Intenções voltado para o desenvolvimento de ações conjuntas em países africanos. Sob a coordenação da ABC e da Usaid, a Embrapa está elaborando uma proposta de projeto de cooperação a ser desenvolvido com o Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT). “Nossa expectativa é de que, ao final da visita, a delegação africana possa sugerir resultados e produtos a serem incorporados pela minuta de projeto que está sendo discutido”, comenta Amaral.
Baculovirus
Primeiro bioinseticida desenvolvido à base de vírus para o controle desta praga, o baculovirus tem grande eficácia para controle da lagarta-do-cartucho a campo, em lagartas de até 1cm de comprimento. Os baculovirus são agentes de controle biológico que causam a morte do inseto praga e que não causam danos à saúde dos aplicadores, não matam inimigos naturais das pragas, não contaminam o meio ambiente, nem deixam resíduos nos produtos. Testes de biossegurança comprovaram que esses vírus são inofensivos a microrganismos, plantas, vertebrados e outros invertebrados que não sejam insetos.
Bacillus thuringiensis
Biopesticida à base da bactéria Bacillus thuringiensis é extremamente eficaz no controle da lagarta-do-cartucho, matando lagartas mais novas de até 0,5cm de comprimento. O uso e posicionamento correto deste produto faz com a lagarta pare de se alimentar até 12h após a ingestão deste biopesticida. Esse agente de controle biológico não causa dano na saúde humana, aplicadores, não contaminam rios nem nascentes e, nem os produtos a serem consumidos “in natura”. Vários testes de biossegurança foram realizados com essa bactéria e comprovam sua inocuidade aos vertebrados.
Uso do extrato aquoso de folhas de nim
O controle da lagarta-do-cartucho tem sido realizado com inseticidas sintéticos, geralmente de custo elevado, com alto risco de toxidade e de contaminação ambiental. O uso de extratos de plantas apresenta perspectiva como substituto a esses inseticidas e pode contribuir para reduzir os custos de produção das lavouras, os riscos ambientais e a dependência dos inseticidas sintéticos. A planta do nim tem mostrado acentuada atividade inseticida para várias espécies de pragas, incluindo a Spodoptera frugiperda. A maioria dos resultados sobre o uso do nim para o controle de pragas foi obtida com produtos preparados através da moagem ou da extração de óleo de sementes. A planta do nim é originária da Ásia e tem sido cultivada em vários países das Américas, África e na Áustria.
O grande problema na agricultura hoje é o aumento dos custos de produção pelo aumento do número de pulverizações. A tecnologia do controle biológico permite reduzir custos sem haver redução na eficiência do controle. Especificamente na área do produtor, o sucesso do controle biológico pode ser atribuído pelo uso correto do monitoramento da mariposa que origina a lagarta-do-cartucho com a armadilha contendo o feromônio sintético. A captura de mariposas na armadilha indica a chegada da praga na área e possibilita ao produtor a liberação da vespinha. O Trichogramma, também conhecido como vespinha, é um inseto benéfico muito pequeno, mas de grande eficiência para controlar os ovos das pragas. Ou seja, a vespinha impede o nascimento das lagartas e evita danos à planta. Esta vespinha benéfica também tem a vantagem de conseguir detectar, no campo, onde o ovo da praga está..
Manejo Integrado de Pragas (MIP)
A adoção do Manejo Integrado de Pragas é uma filosofia, na qual se preconiza a convivência com o inseto-praga de forma que este não cause danos econômicos à cultura relacionada. Para essa convivência e manejo é necessário obedecer alguns preceitos básicos, como reconhecimento e monitoramento da praga em condições de campo. Assim é possível tomar a decisão adequada frente às diferentes estratégias disponíveis para o manejo de S. frugiperda.