Publicado em 14/10/2014 09h41

MT: Nem clima e nem mercado

O produtor mato-grossense está vivenciando uma espécie de ‘inferno astral’.
Por: Marianna Peres

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No passado recente, pelo menos nos últimos oito a seis anos, nunca se vivenciou um início de safra tão complicado, difícil e desmotivador como esse. Nada parece dar certo. Não há clima para as lavouras e nem ‘clima’ para os negócios. As vendas futuras não andam e o plantio já feito pode necessitar de replantio pela falta de chuvas e quem não arriscou perder semeando vai perdendo a cada dia a oportunidade de cadenciar duas safras em um mesmo ciclo e terá de fazer uma corrida contra o tempo, seja plantando ou colhendo.

Apenas 16% de uma estimativa de produção de 27,68 milhões de toneladas estão vendidas de forma antecipada e menos de 9% de uma área de 8,8 milhões de hectares já abriga a nova safra no Estado. Nada vem saindo conforme o planejado. As vendas antecipadas ou futuras são uma praxe entre produtores porque possibilita o recebimento de um valor contratado com soja antes mesmo de plantar. Com esse recurso o produtor custeia a lavoura. Em geral, 30% da produção são suficientes para cobrir o custeio. Mato Grosso só vende metade da necessidade e esse comportamento reflete diretamente o baixo valor da saca no mercado, preços que em alguns casos não cobrem os custos de produção.

Como destacam os analistas do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o plantio da safra 2014/15 teve início há quatro semanas, mas as vendas evoluíram timidamente a cada mês. “Deste volume comprometidos até o final de setembro {16}, teve média de R$ 39,16/sc. As vendas seguem tímidas justamente devido ao preço baixo, que está 14% menor do que o necessário para cobrir os custos totais da lavoura e bem distante da pedida dos produtores, justificando o atraso de 25,4 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano anterior”, destaca o Imea no Boletim da Soja, divulgado ontem. Como o cenário para a próxima safra não esboça melhora num futuro próximo, é exigido dos produtores o dobro de atenção às oportunidades de negócio interessantes, ainda seguras em razão do sucesso da safra norte-americana, das boas perspectivas da safra sul-americana e da recomposição dos estoques mundiais.

De agosto para setembro, por exemplo, as vendas futuras evoluíram 4,9 pontos percentuais (p.p.). No mesmo momento de 2013, o volume já travado chegava a 41,4%, e a média dos últimos cinco anos, é de cerca de 43%. Pouco mais de 4,42 milhões toneladas têm dono até o momento.

SAFRA ‘VELHA’ - As últimas lembranças da safra 2013/14 de soja, em Mato Grosso, são as 574 mil toneladas do grão que ainda restam a ser negociadas, 2,2% do total produzido pelo Estado.

“Se o cenário para a safra 2014/15 preocupa, pelo menos ele não é prejudicado pelas heranças da safra 20013/14, visto que a oferta e demanda da soja produzida em Mato Grosso, apesar de mais volumosa, a princípio não deixa maiores danos para a nova safra”.

Conforme o Boletim do Imea, apesar de recorde, a safra 2013/14 teve ajuste entre oferta e demanda e não deixa nenhuma herança negativa, que possa depreciar ainda mais os preços da nova safra. “Do lado da oferta, o esperado aumento da produção deste ano se confirmou: 26,5 milhões de toneladas. A demanda, por sua vez, não decepciona e consumiu 26,26 milhões de toneladas, ou 99% de toda a oferta. Assim, mesmo com o recorde de produção, a oferta e a demanda da oleaginosa no ano-safra 2013/2014 conseguiram um bom ajuste, não deixando para a próxima safra estoques muito elevados, o que poderia ser mais um fator negativo no mar de preocupações que se tornou a safra 14/15”, explicam os analistas do Imea, por meio do Boletim.