Publicado em 02/06/2020 20h58

Indústria química tem pior resultado em 30 anos

Setor sentiu recuo de 35% nas vendas internas e de ociosidade de trabalho nas plantas fabris
Por: Eliza Maliszewski | Agrolink

Se o coronavírus não impactou o andamento do agronegócio, em produção e exportação, não se pode dizer o mesmo da indústria química brasileira. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), em abril a produção teve queda de 19,4% quando comparada ao mês anterior. As vendas internas sentiram mais, com redução de 35,7% e o consumo caiu 9,4%.

Na comparação com igual mês do ano passado, também houve queda. O índice de produção caiu 13,5% e vendas internas recuou 36,4%. No contramão o volume importado em abril deste ano cresceu 77%, resultando também em um aumento do consumo, de 24,3%. Na média de maio de 2019 a abril de 2020, os produtos importados representam 45% do mercado local de químicos.

Outro ponto que chama a atenção é a ociosidade do setor. A média de uso das plantas foi de 65% em abril, uma vez que não há a opção de desligar por completo. “A maior parte das unidades está operando no mínimo do limite, o que torna os custos unitários de produção mais elevados, piorando o quadro de competitividade do setor”, analisa a diretora de Economia e Estatística da Abiquim, Fátima Giovanna Coviello Ferreira. 

A tendência para maio é a manter dos índices de produção obtidos em abril, mas 36% das empresas apresentaram um recuo nas vendas internas em relação ao mês anterior. Apesar da desvalorização do Real, que poderia estimular as exportações e compensar o declínio nas vendas internas, 33% das empresas informaram que as vendas externas declinaram em relação ao mês anterior e os produtos importados, que se beneficiaram com matéria-prima mais barata, pressionam o mercado interno.

A Abiquim também pesquisou sobre o acesso as empresas do setor ao crédito. Apenas 33% das empresas consultadas recorreram ao mercado financeiro, sendo que, desse total, 27% não conseguiram acessar as linhas de recursos disponibilizadas. “As empresas que tiveram acesso negado pelas instituições financeiras apontaram o excesso de burocracia, o aumento de garantias e a elevação dos juros como os motivos para não conseguirem acessar as linhas de crédito”, afirma Fátima. 

A inadimplência dos segmentos clientes também cresceu para 85% das empresas amostradas, sendo que o percentual médio foi de quase 30% dos valores a receber.