Publicado em 27/03/2017 09h51

China retoma importações de carne brasileira, diz Mapa

Em rede social, ministro da Agricultura voltou a lamentar os efeitos da Operação Carne Fraca sobre o setor
Por: Raphael Salomão

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O Ministério da Agricultura (Mapa) anunciou, neste sábado (25/3), que a China voltou a liberar as importações de carne brasileira. O país tinha adotado restrições depois da Operação Carne Fraca, que investiga suspeitas de corrupção de funcionários do Mapa que atuam na fiscalização de frigoríficos.

“Trata-se de atestado categórico da solidez e qualidade do sistema sanitário brasileiro e uma vitória de nossa capacidade exportadora. A regularização do ingresso da carne brasileira na China mostra o espírito de confiança mútua entre os dois países e a disposição para dialogar com boa fé”, disse em nota, o ministro Blairo Maggi

No comunicado, Maggi ressalta que os chineses não chegaram a fechar o mercado. Apenas haviam adotado medidas de caráter preventivo “para que tivéssemos a oportunidade de oferecer todas as explicações necessárias e garantir a qualidade da nossa inspeção sanitária”. Segundo o Ministério, produtos de 65 unidades frigoríficas ficaram retidos nos portos do país.

Na sexta-feira (24/3), a pasta já havia informado que os Estados Unidos decidiram não impor embargos à carne brasileira em função das investigações da Polícia Federal.

"Deixaram o país sangrar"

Também na sexta-feira (24/3), Maggi voltou a lamentar os efeitos da Operação Carne Fraca sobre cadeia produtiva da carne no Brasil. Em uma postagem em seu perfil no Facebook, ele afirmou que “fizeram o Brasil sangrar por nada”, ao reafirmar a qualidade da carne produzida no país.

“A Operação da PF investiga pessoas e não produtos! Ou seja, fizeram o Brasil sangrar por nada”, disse. O ministro disse que estava encerrando uma semana exaustiva de trabalho, tentando convencer consumidores e importadores da qualidade da carne brasileira.

Maggi fez as afirmações ao comentar reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo. Em entrevista, o juiz Marcos Josegrei, que expediu os mandados da Operação Carne Fraca, esclarece que o foco da investigação é a suspeita de corrupção de funcionários do Ministério da Agricultura.

“O inquérito policial tem um foco muito específico. É um grupo de fiscais e um grupo de pessoas que se associou a esses fiscais para obter alguma facilidade em um dos processos da certificação desses produtos de origem animal”, diz o magistrado na reportagem.

Josegrei acrescenta que, “em momento algum” o objeto da investigação foi o processo inspeção no Brasil. E que, com base no inquérito da Operação Carne Fraca, é impróprio dizer que o país não tem condições de exportar ou consumir no mercado interno produtos de boa qualidade.

O juiz ressalta, no entanto, que, se for constatado que os produtos não atendem os padrões, os investigados podem respondem por outros crimes, além de corrupção. Ele menciona crime contra a saúde pública e contra as relações de consumo.

Impacto

A Operação Carne Fraca foi deflagrada no dia 17 de março. Envolveu 1.100 agentes federais no cumprimento de 309 mandados judiciais. Foram feitas conduções coercitivas, prisões temporárias, prisões preventivas e busca e apreensão.

Das mais de 4,8 mil unidades frigoríficas no país, 21 foram investigadas. Todas foram colocadas em regime especial de auditoria pelo Ministério da Agricultura (Mapa) e três delas tiveram as atividades suspensas. Trinta e três fiscais federais agropecuários foram afastados e são alvos de processo administrativo.

Nesta sexta-feira, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) informou ter determinado a realização de recall de produtos de três frigoríficos implicados nas investigações. Todos os produtos devem ser retirados do mercado e os consumidores, ressarcidos.

Desde a divulgação das investigações, o governo e representantes da cadeia produtiva da carne têm reagido para mostrar que as suspeitas investigadas são pontuais e não representam o que ocorre na indústria de carnes. Mas os efeitos não demoraram a aparecer.

Analistas e representantes do setor falam em graves prejuízos para a cadeia produtiva da carne. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) divulgou nesta sexta-feira (24/3) que calcula perdas de US$ 40 milhões com exportações de carne de frango e suína em consequência da ação da PF.

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