Publicado em 16/10/2017 16h18

Importação da Argentina e EUA pode elevar preços do trigo brasileiro?

Em Chicago as cotações aumentam à medida que progridem no tempo
Por: Leonardo Gottems | Agrolink

O clima estragou boa parte do trigo brasileiro, tirando a oportunidade de bons preços nesta safra. Além disso, os próprios preços internacionais caíram a níveis abaixo dos últimos 10 anos em Chicago (EUA), pressionados pela brutal elevação da produção russa, de 72,5 milhões de toneladas (MT) e para 82MT. 

“Todos estes fatores fazem o lado negativo nesta temporada. Por causa disto os preços do trigo argentino estão baixos. Os vendedores pedem algo ao redor de US$ 181 FOB para entrega em dezembro, US$ 184 para janeiro e US$ 187 para fevereiro, isto é, estão subindo. Na bolsa de Chicago também as cotações aumentam à medida que progridem no tempo. Isto significa que darão suporte a novas altas de preços internacionais e nacionais. Neste momento, os preços do trigo brasileiro estão pressionados muito mais pela falta de demanda de farinhas do que pela situação internacional”, afirma a Consultoria Trigo & Farinhas.

Questionado sobre se o trigo brasileiro poderá melhorar os níveis atuais em função da necessidade de importação do país, o analista da T&F Luiz Fernando Pacheco aponta alguns dados concretos: “Os vendedores argentinos pedem US$ 181 para dezembro para trigo com 12% de proteína, mas se pode comprar por menos, ao redor de US$ 175/t. Suponhamos que o negócio saia a US$ 178/t FOB portos argentinos. A este valor se deverá adicionar US$ 12/t de frete até Rio Grande ou Paranaguá (US$ 13?) e mais US$ 11/t de descarga, mais US$ 5,00 de lucro das Tradings (no mínimo), totalizando US$ 206 posto nos portos de Rio Grande e Paranaguá. Com o dólar ao redor de R$ 3,18 para dezembro, este preço ficaria em R$ 655/t posto nos portos, mais frete de Rio Grande ou Paranaguá até os moinhos de Canoas ou Ponta Grossa (em média R$ 30,00/t, porque será retorno). O preço final, posto nestas praças, deverá se situar ao redor de R$ 685,00/ton, contra os atuais R$ 620,00/t”.

“Mas, como a qualidade do trigo argentino não está uma ‘Brastemp’ (o clima também está causando danos por lá, embora os agricultores tenham se esforçado para melhorar a qualidade) será necessário comprar trigo americano para mesclar e melhorar a qualidade das farinhas, já que o consumidor brasileiro está cada vez mais exigente. O trigo americano hard de proteína chegaria a Paranaguá ao redor de R$ 1.050,00/t e o trigo soft ao redor de R$ 895,00/t. Teremos, então, que fazer as proporções: cada moinho tem a sua, mas vamos fazer uma aqui para efeito de cálculo – 70%/30%, para determinar o custo final do moinho”, explica. 

De acordo com Pacheco, teremos trigo argentino a R$ 685,00 vezes 70%, o que daria R$ 479,50/t. A isto se adiciona o trigo americano hard (melhorador) a R$ 1.050 vezes 30%, seriam R$ 315/t. Somando os resultados, teríamos um custo final para o moinho ao redor de R$ 794,50/ton. Para os moinhos gaúchos os custos finais serão um pouco superiores, se quiserem ter a mesma qualidade da farinha (há algumas fábricas de pão industrializado no estado que exigem farinhas de alta qualidade, o que faz supor que o RS deverá importar alguma carga dos EUA).

“Note-se que fizemos os cálculos baseados nas cotações de janeiro e que os meses subsequentes deverão ser maiores ainda. Então, dependendo desta mistura de trigos – entre nacionais e importados – e dos preços das farinhas no próximo ano, acreditamos que o preço do trigo nacional de boa qualidade (tanto da safra 2016/17 como da safra 2017/18) poderá, sim, ter o seu preço bastante elevado a partir de janeiro/17 (porque substituirão o trigo importado). Os trigos de menor qualidade servirão para compensar o alto preço dos importados, devendo ser mantidos em níveis mais baixos”, conclui.