Publicado em 21/11/2017 17h01

Indústria de frango: oportunidade para colocar a casa em ordem

Por Guilherme Bellotti de Melo, analista sênior de Agronegócio do Itau BBA.
Por: Guilherme Bellotti de Melo, analista sênior de Agronegócio do Itau BBA

Após a tempestade perfeita enfrentada em 2016 - marcada por uma combinação entre preços recordes de milho e deterioração da atividade econômica -  que deixou como rastro uma série de empresas em dificuldades financeiras, o setor avícola brasileiro passará a ter ventos mais favoráveis nos meses vindouros. Esse cenário surge como uma grande oportunidade para que os players do setor coloquem a “casa em ordem”.

De fato, as empresas de frango deverão observar custos significativamente mais baixos na esteira da produção recorde de milho de 2ª safra no Brasil, que é estimada em cerca de 70 milhões de toneladas, 65% superior a do ano passado. O resultado disso é que os preços do grão “desceram a ladeira” e encontram-se atualmente em níveis 50% inferiores a setembro de 2016.

A boa notícia é que mesmo se as exportações alcançarem os “tão” esperados 34 milhões de toneladas, os estoques de passagem para 2018 deverão ser suficiente para impedir subidas abruptas das cotações. Não se pode deixar de mencionar também a queda dos preços do farelo de soja diante supersafra da oleaginosa no Brasil combinada com uma ampla disponibilidade global do grão.

 Adicionalmente, já há sinais de retomada da economia brasileira o que pode ajudar a estimular o consumo após a queda de 3% da demanda per capita nos últimos dois anos.  O nível de emprego, por exemplo, recuou de 13,2% no trimestre concluído em março para 12,7% em julho, com as expectativas do Itaú BBA apontando para 12,2% no fim de 2018. A desaceleração da inflação também tem contribuído para o aumento da renda disponível da população após anos consecutivos de corrosão do poder de compra.

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Do lado das exportações, as expectativas apontam para uma recuperação do volume vendido após a ressaca da operação carne fraca, agosto já foi um mês forte. O impulso para isso virá da redução dos estoques em importantes destinos da carne brasileira, como o Oriente Médio e Japão, e também da restrição da oferta local na China como reflexo da redução das importações de genética desde 2015, após os casos de gripe aviária nos Estados Unidos e Europa. É válido salientar, no entanto, que a investigação antidumping do governo Chinês sobre as exportações Brasileiras e o aumento do excedente exportável nos Estados Unidos pode diminuir o espaço para crescimento das exportações nacionais. 

Todo esse ciclo positivo que se descortina deve ser percebido como uma excelente oportunidade para que os players coloquem a “casa em ordem” após a aguda crise do ano passado, que trouxe consigo um aumento da alavancagem e redução dos níveis de liquidez de parte relevante dos frigoríficos. Assim, antes de partir pra um novo ciclo de expansão, os gestores deverão privilegiar a melhora da eficiência operacional e também o reestabelecimento da saúde financeira de modo a reduzir o risco de tais companhias.

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Como sabemos, o mercado de frango é cíclico e certamente anos de vacas magras virão no futuro. A história mostra que um dos principais pilares que possibilitam atravessar os períodos de margens adversas sem grandes solavancos e sustos é estar com a saudável financeiramente quando a crise se chega.

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