Publicado em 05/10/2021 12h01

Investimento em carne de laboratório cresce 40% no semestre

2021 já é chamado de “o ano da carne cultivada”
Por: Eliza Maliszewski | Agrolink

A carne cultivada é a conhecida carne de laboratório ou também chamada de carne artificial. Produzida por meio da bioengenharia, a inovação é uma forte tendência da indústria de alimentos por se mostrar uma alternativa aos produtos de origem animal, que ocasiona o trato de seres vivos como produto e degradação do meio ambiente. 

Este tipo de proteína vem ganhando espaço também no Brasil, mesmo que de forma mais lenta, através de grandes redes de supermercado e mercados on-line. Os investimentos globais em proteína bovina a base de células saltam de US$ 366 milhões em 2020 para US$ 506 milhões nos seis primeiros meses de 2021, que já é chamado de “o ano da carne cultivada”, segundo dados da Fairr Initiative, uma associação internacional de grandes investidores que atua junto a gigantes do varejo e da indústria alimentícia.

O estudo mostra que grandes redes francesas como Casino, Carrefour e Mondelez investem na diversificação de proteínas na França mas ainda não está claro como respondem à demanda dos consumidores brasileiros por dietas de maior teor vegetal com vistas a benefícios ambientais e à saúde. A ideia é que expandam seus portfólios de produtos de base vegetal em um futuro próximo. 

Pesquisa recente com consumidores no Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Índia e Brasil mostrou que quase 80% dos entrevistados estão dispostos a experimentar queijo lácteo sem origem animal feito de fermentação de precisão. Os números apontam para a possibilidade de forte absorção futura de queijos alternativos inovadores trazidos para o mercado. 

A BRF, que possui alguns produtos protéicos alternativos em seu portfólio como hambúrgueres vegetais, diz que o segmento de substitutos de carnes é uma de suas principais vias de crescimento e que esta será uma das maiores transformações no setor de alimentos desta geração. Além disso, anunciou parceria para lançar carne bovina à base de células, no Brasil, em associação com a Aleph Farms, start-up israelense que desenvolve proteínas de laboratório a partir de células animais. A ideia é co-desenvolver e produzir carne cultivada usando as "plataformas de produção patenteadas" da Aleph, distribuindo produtos de carne bovina cultivada com a parceira no Brasil.                                                   

A JBS, uma das maiores produtoras de alimentos do mundo, também atua no segmento de proteínas de base vegetal, com amplo portfólio de produtos e líder no mercado de alimentos congelados e vegetais. Em 2020 se associou à NoMoo, pioneira em tecnologia alimentar brasileira na fabricação de queijos fermentados de castanha de caju e iogurtes, para trazer o 'Incrível Escondidinho' com carne vegetal sabor queijo. Atualmente, a linha possui mais de dez produtos de base vegetal em seu portfólio.

No entanto, o relatório também alerta que a maioria (72%) das empresas de alimentos ainda não adotou metas de diversificação de proteínas como parte de seus esforços de descarbonização. Isso apesar da crescente demanda do consumidor por alternativas de carne e laticínios.

Outros pontos mostrados pelo levantamento são de que 7 de 25 (28%) varejistas e fabricantes globais de alimentos agora têm metas para expandir seu portfólio de proteínas alternativas, contra nenhuma em 2018. Por exemplo, a Unilever se comprometeu a atingir US$ 1,2 bilhão em vendas de alternativas de carne e laticínios entre 2025-27. Cerca de 48% das empresas agora rastreiam e divulgam publicamente suas emissões da pecuária, contra apenas 21% em 2019; 68% das empresas têm metas para reduzir as emissões agrícolas em suas cadeias de abastecimento.                                                                                                         
No entanto, é tamanha a demanda por proteínas alternativas - que tendem a oferecer mais sustentabilidade para atender à demanda global de proteínas do que a produção de carne atual - que os investidores alertam que muitas empresas ainda estão atrás da curva, deixando de se proteger dos riscos climáticos onerosos da carne e produção de leite, danos à reputação e regulamentação iminente sobre a transição de proteínas. 

A pesquisa do Fairr também indica que 2021 é “o ano da carne cultivada.” Até agora, a conversa sobre a transformação de proteínas tem se concentrado nas opções de proteínas baseadas em plantas, mas o aumento da carne cultivada parece destinada a perturbar o mercado nos próximos anos.