Cary Fowler. Foto: Rhodes College
Nenhum país no mundo é autossuficiente na produção de sementes. A afirmação do especialista norte-americano Cary Fowler, enviado especial dos EUA para Segurança Alimentar Global e vencedor do Prêmio Mundial da Alimentação 2024, chamou a atenção durante a coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira, 19 de maio, no World Seed Congress 2025. O evento, que acontece de hoje até quarta-feira (21), em Istambul, na Turquia, reúne mais de 1.600 profissionais do setor de sementes de mais de 70 países para debater desafios, inovações e políticas que moldarão o futuro da segurança alimentar global.
Em sua fala, Fowler destacou a importância de iniciativas como o Svalbard Global Seed Vault, o banco mundial de sementes que preserva mais de 1,3 milhão de amostras de variedades agrícolas, garantindo uma reserva estratégica para a agricultura global. Segundo ele, esse cofre biológico é fundamental para assegurar a diversidade genética e a resiliência dos sistemas alimentares diante das incertezas futuras.
“O Svalbard Vault é uma espécie de backup da agricultura global. Precisamos proteger e multiplicar essa reserva para garantir a segurança alimentar das próximas gerações”, pontuou.
A sustentabilidade foi o tema central das discussões desta segunda-feira, com um enfoque especial na necessidade urgente de aumentar os investimentos em pesquisa básica e políticas públicas que estimulem inovações transformadoras no setor.
“Muitas das tecnologias que usamos hoje — e que as pessoas tomam como certas, inclusive na indústria de sementes e no melhoramento genético de plantas — não começaram como tecnologias desenvolvidas com o objetivo de melhorar as técnicas de melhoramento. Elas começaram como técnicas biológicas e genéticas básicas" afirmou Fowler em sua apresentação.
Outro ponto relevante foi o reconhecimento das políticas públicas brasileiras para a recuperação de áreas degradadas. Em coletiva de imprensa, Michael Keller, secretário-geral da International Seed Federation (ISF), enfatizou o papel positivo dessas iniciativas, afirmando que recuperar pastagens auxilia tanto na melhoria da produtividade quanto na redução das emissões de gases de efeito estufa.
“A indústria de forragens é muito interessante, porque há muito investimento acontecendo nela. Visitamos o Brasil no ano passado e pudemos ver os choques climáticos que os produtores estão enfrentando, além das iniciativas do governo brasileiro para aumentar a sustentabilidade, como a exigência de que um terço da terra deve permanecer como pastagem e não ser usada para outra produção.”
Keller ressaltou que o setor clama por mais inovação, não apenas para atender às demandas de sustentabilidade, mas para “produzir mais usando menos terra”, um conceito vital para o futuro da agricultura global. “Acredito que esse é o espírito do setor de sementes hoje.”
A escolha de Istambul como sede do congresso reforça o papel estratégico da Turquia na agricultura global. Burak Gönen, co-presidente do Comitê Organizador Nacional, ressaltou que como uma ponte entre continentes, culturas e inovação, e líder mundial na produção agrícola, o país é um palco ideal para este tipo de discução.
“Este congresso é uma oportunidade única para compartilhar nossas forças, fomentar parcerias e avançar em soluções para um futuro agrícola mais seguro e sustentável”, enfatizou Gönen.
Os painéis deste primeiro dia abordaram também o impacto da regulamentação na inovação em melhoramento genético, o combate ao comércio ilegal de sementes e a importância da colaboração internacional para garantir a segurança alimentar global. Até quarta-feira (21) o congresso segue com painéis e debates sobre o papel das sementes na construção de sistemas alimentares resilientes ao clima, conservação da biodiversidade, combate à semente ilegal e ao fenômeno da desinformação no setor.
Organizado pela International Seed Federation em parceria com o Comitê Organizador Nacional da Turquia, o World Seed Congress reforça o papel estratégico do setor de sementes no enfrentamento dos grandes desafios do século XXI e na construção de um sistema alimentar mais sustentável e resiliente.
Mayara Martins representa o Brasil e viajou a convite da organização do World Seed Congress 2025.
