Guerra comercial impulsiona interesse da América Latina para exportadores
Publicado em 23/05/2025 19h39

Guerra comercial impulsiona interesse da América Latina para exportadores

A guerra comercial e os novos acordos internacionais têm redirecionado o interesse de exportadores para a América Latina, que viu sua atratividade dobrar, segundo estudo da Allianz Trade.
Por: Redação

A guerra comercial e a reconfiguração dos acordos internacionais estão alterando o mapa das exportações globais, com a América Latina ganhando destaque como destino estratégico. É o que aponta o relatório "Allianz Trade Global Survey 2025: Trade war, trade deals and their impacts on companies", divulgado pela Allianz Research, braço de pesquisas macroeconômicas da Allianz Trade. O estudo revela um aumento significativo no interesse pela região, impulsionado pelas mudanças no cenário global.

O levantamento indica que o interesse na América Latina dobrou, saltando de 5% para 10% antes e depois do período que o relatório denomina "Dia da Libertação". Entre os exportadores chineses, o crescimento foi ainda mais expressivo, com um aumento de 10 pontos percentuais, passando de 5% para 15%. O documento aponta que "35% com exposição à cadeia de suprimentos na América Latina após o Dia da Libertação, contra 24% antes", afirmaram os entrevistados chineses.

Exportadores europeus também demonstraram maior atenção à região. O interesse entre os franceses subiu de 4% para 15%, e entre os alemães, de 2% para 6%. Empresas norte-americanas com atuação na América Latina também indicaram preferência por manter operações na região, revertendo a tendência anterior de realocação para a Europa Ocidental ou Ásia-Pacífico.

O relatório da Allianz Trade também analisou o interesse por setor. O setor de energia registrou o maior aumento, passando de 4% para 18%. A mineração também se destacou, subindo de 6% para 19%. A manufatura teve um aumento de 4% para 9%, a agricultura de 5% para 9% e o atacado de 5% para 7%.

Segundo os economistas da Allianz, "as exportações de commodities da América Latina aumentaram nos últimos anos, impulsionadas pelas riquezas naturais e minerais, levando tanto a União Europeia quanto a China a estabelecer acordos comerciais mais estreitos com os países latinos".

Em relação aos prazos de pagamento nas exportações, o levantamento mostra que apenas 11% das empresas recebem em até 30 dias, um índice que se manteve estável em relação ao ano anterior. A maioria das empresas, cerca de 70%, recebe entre 30 e 70 dias, com índices mais elevados no Reino Unido (75%), França (73%), Itália (73%) e EUA (73%).

A China se mantém como o país com o maior número de empresas enfrentando prazos superiores a 90 dias: 6% dos exportadores chineses são pagos após esse período, em comparação com a média global de 3%. A manufatura é o setor que mais enfrenta atrasos, enquanto empresas de varejo, tecnologia e construção possuem prazos médios inferiores a 50 dias.

O relatório também revela que 28% das empresas do setor agrícola esperam uma redução nos prazos, um número abaixo da média geral de 32%. Os setores de manufatura e comércio demonstram uma expectativa de estabilidade nos pagamentos, com 24% cada.

Quanto à inadimplência, o estudo aponta que 48% dos exportadores preveem um aumento no risco de não pagamento nos próximos seis a 12 meses. Esse percentual era de 37% em 2024. O aumento foi mais acentuado no Reino Unido (+24 pontos percentuais) e nos Estados Unidos (+21 pontos), onde 62% e 56% das empresas, respectivamente, esperam um crescimento do risco. A Itália também figura entre os países mais preocupados, com 59%.

Em contraste, as expectativas são mais moderadas na China (43%) e menores na Alemanha e França, ambas com 34%. Entre os setores, os de atacado e varejo lideram a preocupação com a inadimplência (50%), seguidos pela manufatura (46%) e pela agricultura (40%). O estudo também identificou que empresas com maior faturamento percebem riscos mais elevados de não pagamento.

Apesar das preocupações com a inadimplência, o aumento do interesse pela América Latina como destino de exportações sinaliza uma mudança importante no cenário do comércio global, com a região se consolidando como uma alternativa estratégica em meio às tensões comerciais e geopolíticas.

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