Publicado em 07/12/2015 16h58

Salmão transgênico encontra resistência do mercado consumidor

Por conta da polêmica, o peixe geneticamente modificado deve demorar a chegar aos supermercados
Por: Agência EFE

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O salmão transgênico cresce de forma mais rápida. Foto: U.S. Fish and Wildlife Service/CCommons

O primeiro animal transgênico legalizado nos Estados Unidos para o consumo humano é um salmão que ainda pode demorar a chegar aos pratos dos consumidores, tendo em vista os receios que despertou nos mercados de ambos lados do Atlântico.

Apesar da recente autorização da agência americana de alimentos e remédios, o salmão da empresa AquaBounty voltou a pôr em confronto defensores e críticos dos organismos modificados geneticamente (OMG).

Neste caso, o salmão conta com uma maior produção de hormônio de crescimento como resultado de um gene importado de outra espécie de peixe para crescer em menos tempo do que precisaria de forma natural. O especialista em Pesca da Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Devin Bartley, afirmou que o método é "um passo adiante".

Bartley ressaltou que são necessárias "alternativas criativas, socialmente aceitáveis, inócuas e respeitosas com o ambiente" para atender à demanda por peixe de uma população mundial em aumento e, neste sentido, a engenharia genética é uma "opção real".

O especialista lembrou que este novo salmão passou por vários controles que garantem seu consumo e que, embora as autoridades tenham exigido que seja criado em instalações terrestres e não no oceano para evitar fugas, os riscos ambientais também existem em qualquer tipo de fazenda ou sistema de cultivo.

"Na FAO não olhamos especificamente para a tecnologia com a qual se produz um organismo, mas às mudanças que a tecnologia gera nos organismos, porque pode criar um animal muito perigoso através do melhoramento genético tradicional ou um animal muito seguro mediante engenharia genética", comentou Bartley.

Frente à comunidade científica, que pretende continuar pesquisando e produzindo alimentos de modo mais eficiente e com menos recursos, outros setores não veem essa ideia com os mesmos olhos, e logo apareceram as pressões para que esse salmão não fosse comercializado.

Supermercados e redes de distribuição dos EUA já manifestaram sua intenção de não vender por enquanto o que os críticos batizaram como "Frankenfish".

Do outro lado do oceano Atlântico, o processo está muito mais atrasado. Como explica o pesquisador do Conselho Italiano de Pesquisas, Roberto Defez, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar não permite o comércio de animais transgênicos na União Europeia (UE).

"Existe um processo muito longo para sua autorização na Europa e, mesmo que o finalizasse, depois restaria a escolha das grandes cadeias de distribuição e supermercados, que normalmente não querem vender produtos etiquetados como OMG", ressaltou Defez.

Na UE, só se cultiva um tipo de milho transgênico, da multinacional Monsanto, enquanto são importados 58 organismos geneticamente modificados, principalmente pensos para o gado.

Atualmente 19 países do bloco notificaram sua intenção de proibir o cultivo dessas variedades em seu território.

Por sua vez, uma proposta da Comissão Europeia pretende dar mais liberdade aos países para vetar importações de alimentos ou pensos transgênicos, ao que o parlamento europeu se opõe pelas possíveis distorções no mercado interno.

Defez pede que se reconheça abertamente que no continente muitos produtos típicos de qualidade derivam de animais nutridos com OMG e que há materiais sanitários produzidos com algodão transgênico.

Na Itália, um dos países contrários ao cultivo de transgênicos, não se reconhece alguns dos benefícios atribuídos à engenharia genética, como a proteção da biodiversidade ou a redução da dependência dos pesticidas.

Stefano Magini, responsável de meio ambiente da associação Coldiretti, considerou que, após muitos anos, os OMG seguem sendo percebidos como um risco "em termos de qualidade" e estão afastados da "identidade" da agricultura tradicional do país.

"O risco zero dos OMG não existe, são organismos modificados que não podemos controlar e que não seguem as regras dos organismos naturais", opinou Federica Ferrario, do Greenpeace Itália.

A ativista reivindica o etiquetamento especial dos produtos transgênicos (algo que em geral é obrigatório na UE, mas não nos EUA) por um "mínimo de transparência e informação ao consumidor".

A agência americana não o considera necessário no caso do novo salmão por não ver diferenças biológicas relevantes entre o peixe da AquaBounty e os outros.

Onde uns exigem conhecer o tipo de tecnologia empregada, outros acham discriminatório fazê-lo apenas com os transgênicos quando o importante é conhecer o "resultado final". Seja como for, antes que o salmão chegue à mesa, o debate está servido.