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Publicado em 13/04/2016 18h27

Câmbio tem mais importância do que números da safra neste momento, diz consultor

Glauco Monte, da FC Stone, falou sobre as perspectivas para o mercado de grãos, em palestra durante a Tecnoshow
Por: Rafael Salomão

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A volatilidade da taxa de câmbio tem afetado a dinâmica do mercado brasileiro de grãos no Brasil de uma maneira mais brusca do que os números de safra. Foi o que afirmou o diretor de commodities da consultoria INTL FCStone, Glauco Monte, que deu uma palestra para os participantes da Tecnoshow Comigo, em Rio Verde (GO).

“O câmbio mudou a dinâmica do mercado. Eu estou olhando mais para o noticiário econômico do que para as perspectivas de safra neste momento”, disse o consultor, destacando a influência do atual momento político e econômico do Brasil sobre a cotação do dólar. “Mais importante do que saber se a safra de soja vai ser 100 (milhões de toneladas) ou 95 (milhões de toneladas), é importante saber se o câmbio vai estar R$ 4,20 ou R$ 3,20”, acrescentou.

O consultor explicou que o dólar é determinante porque eleva a competitividade das exportações brasileiras. Falando especificamente da soja, em suas simulações, uma cotação de R$ 3,10 poderia representar uma redução de 4 a 5 milhões de toneladas nos embarques. Bem diferente do que poderia ocorrer, por exemplo, com o dólar valendo R$ 4,10, por exemplo.

“O câmbio define competitividade. Melhor seria se ela não ficasse concentrada no câmbio, mas fosse também pela eficiência logística do país”, opinou Monte. E se, em curto prazo, a cotação do dólar está relacionada ao desempenho das exportações, no médio prazo, influencia a decisão de produção, já que interfere nos custos e nos preços de venda.

Monte destacou que os preços internacionais da oleaginosa estão nos atuais níveis em função de ganhos de área e de produtividade no mundo nos últimos anos. Esse movimento alargou estoques, mesmo com a crescente demanda da China. De acordo com o consultor, em 2015, a necessidade domercado chinês era estimada em 82 milhões de toneladas do grão e pode aumentar ainda mais nos próximos anos.

“Não tem problema de demanda na China. O que fez o preço internacional trabalhar a patamares abaixo de outros anos foi o excesso de oferta nos Estados Unidos e no Brasil, que levou a um estoque mais alto. Nos Estados Unidos foi onde efetivamente se recompôs o estoque”, analisou Monte.

Com base em dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), ele disse que, na safra 2013/2014, a relação estoque/uso de soja no mercado norte-americano estava em 2,3%. No ciclo 2014/2015, passou para 4,9% e na temporada 2015/2016 deve chegar a 12,1%. No Brasil, na safra 2015/2016, as reservas finais podem ser de apenas 1,21 milhão de toneladas, estima o diretor da INTLFCStone.

“Se a Bolsa de Chicago fosse em São Paulo, a soja não teria baixado de US$ 14 por bushel”, disse ele. No entanto, na situação atual, “sem uma quebra de safra nos Estados Unidos, não há como ter preço acima da média”, disse ele, usando como patamar médio US$ 10 por bushel.

Milho

O diretor da INTL FCStone destacou que a variação cambial também foi determinante para o mercado de milho. Segundo ele, o Brasil passou a ter o cereal mais barato no porto, com a variação cambial estimulando as exportações. No ano passado, as vendas externas do produto superaram os 29 milhões de toneladas, reduzindo estoques internos e fazendo, de acordo com o consultor, com que fosse perdida a referência de preços do produto.

Para exemplificar a competitividade trazida pelo dólar, com base em cotações no município de Sorriso (MT), Monte disse que, enquanto o valor do milho chegou a dobrar em um ano, o frete aumentou pouco mais de 7%. Assim, enquanto em março de 2015 o transporte representava 50,45% do preço do grão, em março deste ano, representava 35,29%. Com uma taxa de câmbio a R$ 3,10, o frete passaria a ser 63,22% do preço do milho em Sorriso e, com a moeda americana a R$ 4,10, a proporção cairia para R$ 47,8%.

“O Brasil não tem  competitividade no milho com câmbio a R$ 3,50”, acrescentou, destacando o risco de redução de exportações do cereal, com consequente queda dos preços internos. “Não dá para falar de milho a R$ 40 a saca por muito tempo”, acrescentou.

Na avaliação dele, a segunda safra de milho pode ajudar a realinhar os preços internos, mas não resolve a situação do mercado. “O câmbio será crucial para o preço do milho mais do que a quebra da safrinha de Goiás”, disse ele, em referência aos problemas de clima que tem afetado o desenvolvimento da cultura no estado e preocupado agricultores locais.

Assim como na soja, ele acredita que só uma quebra de safra nos Estados Unidos pode colocar os preços do cereal em nível acima das médias, podendo superar os US$ 4 por bushel. Consolidada a produção norte-americana, ele considera que as cotações internacionais devem ficar em torno dos R$ 3,50 por bushel. Se este cenário vier aliado a uma queda do dólar, o grão fica menos competitivo.

*O repórter viajou a convite da Comigo