Publicado em 02/09/2016 15h43

Negócios estão aquecidos na Expointer 2016

Ainda que não haja uma projeção de faturamento, movimentação indica que o setor de máquinas começa a reverter uma situação ruim
Por: Vinícius Galera

O sol resolveu aparecer no sexto dia da Expointer. E ele parece refletir o ânimo dos produtores que, no começo da semana, andavam mais circunspectos pelas ruas da tradicional feira realizada pela 39ª vez na cidade de Esteio (RS). Neste ano agricultores, revendedores de máquinas e equipamentos e gerentes de bancos estão mais confiantes. Os negócios vão bem.

De acordo com o diretor nacional de vendas da Massey Fergusson no Rio Grande do Sul, Rodrigo Junqueira, três fatores são responsáveis pelo atual estado de ânimo: o clima, que pode beneficiar a safra, a relação do real com o dólar, que aumenta a rentabilidade do produtor, e a consequenteconfiança. “Nossa percepção é que temos uma feira maior do que no ano passado. Ainda não paramos para olhar os números, mas o humor já é diferente. O agricultor está mais otimista nesse momento decisório, próximo do plantio”, diz Junqueira.

É o caso de Juarez Valduga, vitivinicultor que tradicionalmente adquire maquinário da marca norte-americana. “Nós compramos um lançamento, um trator com tecnologia mais avançada e cabine que dá mais conforto ao produtor, além de a máquina ser mais resistente”.

Na John Deere o clima é o mesmo. Os sócios Gilberto Vencato e Saul Olavo Gross, que produzem arroz e soja em Barra do Ribeiro (RS), compraram quatro tratores. “Queríamos completar a frota, esperamos a feira para ver se tinha um preço menor”, diz Vencato. “Queremos plantar melhor, produzir mais”.

O gerente divisional de vendas da marca, Tangleder Lambrecht, diz que os negócios estão indo bem desde o final de semana. “Hoje o dia está bonito, ensolarado, e nós percebemos que o produtor veio mesmo pra feira e está fazendo compras”, diz, com expectativa de que neste ano os negócios sejam melhores do que no ano passado.

O movimento dos produtores é sentido, é claro, nos bancos. O Santander, por exemplo, já negociou um terço dos R$ 240 milhões disponíveis para os produtores em suas linhas de crédito. Basicamente, foram adquiridas linhas para custeio e máquinas. “Até o meio-dia de hoje (quinta-feira, 1/9) nós fizemos mais volume do que nos outros três dias”, diz o superintendente executivo de agronegócios do banco no Brasil, Carlos Aguiar, lembrando dos primeiros dias chuvosos da feira.

O presidente do Banrisul, Luiz Gonzaga Mota, confia em um resultado melhor para a Expointer. “Comparado com 2015, a demanda está maior. Mas os negócios mesmo acontecem nos dois últimos dias da feira”, diz. Segundo Mota, a instituição detém 10% de participação no crédito agrícola do Rio Grande do Sul, onde o banco atende todos os segmentos produtivos.

A carteira disponível para o setor é de R$ 2,1 bilhões no total, e não apenas para a feira. “Não demarcamos uma dotação. É o que vier da demanda”, explica Gonzaga. Até agora neste ano, a demanda foi de 30%, mas a expectativa é de que os recursos sejam todos distribuídos até o final de outubro, quando termina o plantio no Estado gaúcho.

No Rio Grande do Sul, há muitos municípios caracterizados pelas pequenas propriedades. Por isso, muitos dos financiamentos são contratados via Pronaf. “Ela é uma das linhas mais procuradas em feiras e também fora delas, no dia a dia das agências”, explica João Paulo Comerlato, gerente de mercado do Banco do Brasil. “É uma linha que dá muita quantidade de propostas, porém com títulos menores”. No geral, o banco espera crescer em torno de 15 a 20% acima do ano passado”.

Pequenos e rentáveias

É precisamente na linha de pequenos e médios produtores que o Sicredi, considerado o terceiro operador de crédito rural do Brasil. Nas linhas do Pronaf, a cooperativa financeira contrata mais até do que o próprio Banco do Brasil, liderando o mercado.

Para a Expointer, foram disponibilizados R$ 300 milhões, dos quais cerca de R$ 72 milhões já foram contratados. Até agora, o número representa cerca de 25% a mais do que no ano passado. Os executivos do banco esperam que, no fim de semana, os negócios melhorem ainda mais com as caravanas que, desde a quarta-feira, visitam os estandes do evento.

De olho nesse público de pequenos e médios produtores, em 2013 a sul-coreana LS Tractor instalou uma fábrica Garuva (SC). Para a Expointer, os executivos esperam vender 10% a mais do que no ano passado, segundo o diretor comercial da marca André Rorato.

As condições climáticas para o plantio de culturas como a soja, o milho e o arroz, que começa a partir de outubro, também aliviam a tensão dos produtores gaúchos. A expectativa é de que o fenômeno climático La Niña não traga tantas consequências negativas como as provocadas pelo El Niño no ciclo passado como o excesso de chuvas no Sul e seca na região do Matopiba (acrônimo formado pelas iniciais dos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

Talvez por isso produtores desses Estados também estão presentes em Esteio. De acordo com Rodrigo Junqueira, na Massey Ferguson, produtores de todas as grandes regiões produtoras de grãos do país costumam visitar a feira para prospectar negócios.

“Estamos recebendo um volume de clientes grandes de todo o Brasil. Vem gente do Maranhão, Tocantins, oeste da Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. Estamos com toda a equipe para dar suporte aos clientes que vêm de outra região”.

O aquecimento dos negócios na Expointer pode ser um indicativo da retomada da confiança da agropecuária, setor que vem se mantendo de pé diante do turbulento momento político e econômico.