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Publicado em 31/10/2016 16h02

Tailândia se prepara para exportar insetos de consumo humano para a UE

No país asiático há cerca de 20 mil fazendas destes invertebrados, que são vendidos in natura ou processados
Por: Agência EFE

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O preço dos insetos continua sendo caro comparado com a carne de outros animais como frango, embora isto poderia ser revertido com uma produção em grande escala. Foto: Alpha/CCommons

 As empresas tailandesas se preparam para exportar insetos para consumo humano para a União Europeia (UE), que recentemente organizou uma conferência em Bangcoc para explicar a nova legislação sobre este tipo de alimento. A Tailândia, um dos maiores consumidores de insetos no mundo, conta com cerca de 20 mil fazendas destes invertebrados, que também são vendidos processados como as bolsas de grilos fritos ou em forma de farinha.

Uma nova lei europeia facilitará a venda de insetos para o consumo humano a partir de 2018, embora países como Bélgica, Holanda e Dinamarca já tenham legalizado por sua conta a venda deste tipo de alimento. Segundo a legislação europeia, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (AESA) avaliará cada "alimento novo", que inclui os insetos, antes que a UE aprove sua comercialização, um processo que durará meses.

Alguns dos produtos tailandeses que poderiam chegar às estantes dos supermercados europeus são a pasta de Bugsolutely (com 20% de farinha de grilo) e as bolsas de vermes de seda fritos Hi-Sob, que já são consumidos Tailândia, Mianmar, Camboja e Laos.

"A partir de janeiro de 2018, a regulação sobre alimentos novos da UE estará em vigência. Esperamos que alguns insetos poderão chegar ao mercado (europeu) esse mesmo ano", explicou à Efe Massimo Reverberi, cofundador da Bugsolutely, com sede em Bangcoc. "Insetos como grilos serão fáceis (que obtenham a regulação) porque são consumidos em muitos países há muitos anos. Já outros como os escorpiões serão mais difíceis", explicou.

Reverberi afirmou que, na sua opinião, a Ásia lidera o mercado de produção de insetos para o consumo humano, embora também haja iniciativas emergentes em países como México e Brasil.

A falta de lei específica na UE não significa que não sejam consumidos artrópodes, já que alguns países aplicam sua própria legislação e em outros casos alguns restaurantes se aproveitam do vazio legal. Há alguns anos, o mercado de Boquería em Barcelona e o restaurante La Passion Cafe em Valladolid vendiam insetos como vermes, formigas e até escorpiões.

O Noma, com duas estrelas Michelin e eleito melhor restaurante do mundo durante vários anos pela revista "Restaurant", inclui insetos em seu menu, como a sobremesa de leite de ovelha com pasta de formigas, segundo se pode consultar em seu site.

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) leva anos recomendando o consumo de invertebrados como grilos e gafanhotos, devido a seu alto conteúdo em proteínas, vitaminas e minerais. Os especialistas consideram os artrópodes como a solução mais sustentável para alimentar os 9 bilhões de pessoas que povoarão o mundo em 2050.

Atualmente, cerca de 112 países da Ásia, Europa, África, América e Oceania praticam a entomofagia ou consumo de insetos, entre uma variedade de 1.500 espécies, segundo a FAO.

O preço dos insetos continua sendo caro comparado com a carne de outros animais como frango, embora isto poderia ser revertido com uma produção em grande escala. Outra barreira para a comercialização na Europa são os preconceitos contra o consumo de gafanhotos, escaravelhos e escorpiões devido a sua aparência, algo que também pode mudar.

Há poucos dias atrás, o hotel Dusit Thani de Bangcoc acolheu um seminário-degustação sobre insetos no qual se apresentaram pratos como massa folhada mediterrânea com formigas, pasta de grilo com molho de percevejo de água ou pérolas de tapioca recheadas de vermes de seda. Estas receitas, elaboradas pelo restaurante cambojano Bugs Cafe e a escola culinária tailandesa Le Cordon Bleu, buscavam reivindicar o inseto como um ingrediente apto inclusive para a alta cozinha.

"O inseto é como qualquer outro ingrediente e se pode cozinhar de qualquer forma, e isso é o que fazemos nós", disse Davy Blouzard, cofundador de Bugs Cafe em Siem Riap, no noroeste do Camboja.