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Publicado em 18/11/2016 23h00

Seminário do Leite mostra avanços e desafios para pesquisa em pecuária leiteira

Evento apresenta tecnologia Sondaleite - em estágio de validação - para substituir o teste do álcool na avaliação da qualidade do produto, já na propriedade.
Por: Cristiane Betemps | Embrapa Clima Temperado

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Pesquisador da Embrapa Instrumentação Agropecuária elaborou o protótipo Sondaleite, equipamento prático, barato e que vai garantir qualidade e melhor aproveitamento do leite Lina.  Foto: Paulo Lanzetta


Para contar a trajetória da pesquisa realizada em leite pelo Sistema de Pesquisa e Desenvolvimento em Pecuária de Leite (Sispel) - que completa 20 anos - e os diversos avanços científicos e práticos para cadeia produtiva, a Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) em conjunto com a Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora, MG) planejou a realização do Seminário Técnico do Leite, que foi aberto nesta quinta-feira(17) e se encerra hoje (17). O  destaque do Seminário ficou centrado na apresentação da tecnologia Sondaleite - em validação -que vai substituir o teste do álcool - realizado nas análises de qualidade do leite diretamente nas propriedades rurais.  
 
O evento foi aberto pela fala dos chefes das duas unidades de pesquisa promotoras. O chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Gado de Leite, Pedro Braga Arcuri, e logo a seguir, falou  o chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Clenio Pillon. Ao dar início das atividades, Pillon exaltou a necessidade de promover um evento para discutir as tendências da pesquisa e as colaborações da Embrapa para toda a cadeia, independente da atuação das unidades de pesquisa no país e também buscou  destacar a performance de inúmeros parceiros vinculados ao longo desses anos de trabalho. A Chefia da unidade local lembrou que há 15 profissionais em leite para atuar na região, além disso, há profissionais da Embrapa Gado de Leite que executam suas atividades junto ao Núcleo Sul da Gado de Leite.
 
A palestra de abertura Inovação em pesquisa para gado de leite, ministrada por Pedro Braga Arcuri apresentou alguns temas em Pesquisa e Desenvolvimento e em Transferência de Tecnologias que trarão inovações para a cadeia produtiva do leite. "O agronegócio do leite é o de maior faturamento, se sobrepõe a soja e a carne", afirmou Arcuri. Mas, confessou que é uma das cadeias ainda desorganizada, mas indicou que a região Sul irá superar a Sudeste na produção de leite. Ele apontou motivações para a desorganização do setor, assim como, o que isso resultaria de desafios. Além disso, discorreu sobre algumas linhas de pesquisa de amplo espectro como o melhoramento genético animal, equações de predição do valor econômico, edição genética, qualidade do leite, sustentabilidade ambiental e incorporação de novas tecnologias. Pedro Braga Arcuri mostrou o desafio da startups Ideas for Milk, onde a Embrapa Gado de Leite funciona como um catalisador de iniciativas, mas não tem o compromisso de executá-las. "Os tempos nos dão sinais de que a cooperação está acima da competitividade, que precisamos mais energia em transferir tecnologias para que um maior número de atores adotem. É preciso usar inteligência estratégica", conclui Arcuri.
 
A segunda palestra do dia foi uma retrospectiva histórica sobre os desafios que foram enfrentados pela pesquisa em leite na unidade local e que motivaram a criação do Sispel. Os pesquisadores Maria Edi Ribeiro e Jorge Fainé Gomes lembraram de situações de risco, momentos engraçados e atitudes decisivas para implementação de um Sistema que se firmou ao longo de 20 anos ao investir em pesquisa e desenvolvimento da pecuária leiteira.
 
Durante o dia foram realizadas as abordagens sobre qualidade do leite ( detendo-se no Leite instável não-ácido, o Lina),  dos programas de boas práticas na pecuária leiteira, da inovação em biotecnologia da reprodução animal e os avanços na terapêutica da mastite.
 
Destaque do evento: Sondaleite
 
Os pesquisadores da Embrapa Clima Temperado Maira Zanella e da Embrapa Instrumentação Agropecuária ( São Carlos, SP) Whashington Luiz de Barros Melo mostraram aos participantes do Seminário a tecnologia Sondaleite, que vai substituir o teste do ácool quando se busca avaliar a qualidade do leite. 
 
O teste do álcool é um indicador inicial da qualidade do leite na propriedade, na etapa de coleta do produto. Caso o teste seja positivo, o produto é condenado e não é transportado para a indústria. "Esse teste não consegue diferenciar o que é leite instável não-ácido (Lina) e leite ácido, há dificuldades nesta classificação, por isso, precisamos de um outro teste, que seja eficiente para que não aja confundimento entre os dois estados do produto, e que o leite Lina possa ser reaproveitado e beneficiado pela indústria", defendeu a pesquisadora Maira. Ela explicou que o leite Lina não provoca riscos à saúde pública e pode ser pasteurizado na indústria", falou Maira. Ela completou dizendo que esse novo equipamento do Sondaleite - em processo de validação - vai permitir que não ocorram testes de "falsos positivos", além de dar mais agilidade, praticidade, garantias e menor custo para transportadores de leite e para os próprios produtores de leite. 
 
A tecnologia
 
O Sondaleite surge como uma substituição mais eficiente ao teste do álcool. Possui fácil manuseio, é leve, portátil, apresenta resultados imediatos. Pode detectar problemas de Lina, mastite e também mudanças de comportamento no desenvolvimento e produção dos rebanhos leiteiros. 
 
Segundo Washington é um aparelho que está como um protótipo, em estágio de validação e será testado junto aos rebanhos experimentais nas unidades de pesquisa de Pelotas e Juiz de Fora pelo fato de possuírem laboratórios de análise da qualidade do leite. "Ele é um equipamento único, que pode ser transportado para o campo, com custo baixo e uso simples", falou o pesquisador ao destacar essas características como diferenciais de outros equipamento existentes nesta área.
 
O pesquisador conta que o Sondaleite funciona basicamente  pelo princípio de refletância da luz, através do uso de luz led, a qual é captada por um sensor que indica os dados do estado do leite naquele momento. Ou seja, se é apto ou não para consumo.
 
Segundo dia do evento
 
Durante esta sexta-feira (18/11) foram abordados o histórico e perspectivas do melhoramento de forrageiras, a qualidade, segurança e integridade em lácteos, o processo de automação da coleta de dados e as inovações em métodos de diagnóstico em sanidade animal. 
 
O pesquisador da Embrapa Gado de Leite Marcelo Bonnet frisou em sua palestra a importância da higienização na obtenção do leite, ao referir-se aos cuidados na  hora da ordenha, para garantir o valor do produto  ao longo de todos os elos da cadeia. 
 
Ele indicou pontos fracos a serem melhorados nos processos de ordenha, de transporte e de processamento do produto. "A higienização tem sido a grande falha em todo os estágios de ordenha, transporte e processamento", afirmou Marcelo. Ele ainda confirmou a eficiência de uso do protótipo Sondaleite como suporte ao alcance de qualidade do produto.
 
Ao final, o chefe-geral Clenio Pillon conduziu a discussão de uma reunião técnica para alguns convidados do evento sobre como a pesquisa está respondendo às questões do sistema produtivo. De acordo com ele, o evento tem essa intenção: recolher as demandas da sociedade para nortear a atuação da pesquisa em leite.